20081031

Organismos Transgênicos


Organismos Transgênicos
Anteriormente ao conceito de Transgênico, deve-se esclarecer o que vem a ser Biotecnologia. Conceitua-se como sendo “qualquer técnica que utilize organismos vivos ou partes, para fazer ou modificar produtos, melhorar plantas ou animais, ou desenvolver microrganismos para uso específico”. Deste modo podemos entender a panificação e a produção de vinhos ou cervejas como processos biotecnológicos (no caso da panificação utiliza-se o fermento para modificar uma massa composta de farinha de trigo, açúcar, ovos e outros em pão).
Deste modo a biotecnologia participa do nosso dia a dia há muito tempo. Mais recentemente temos o exemplo da produção de insulina por bactérias geneticamente modificadas, que receberam o gene humano para produzir este hormônio, que anteriormente era extraída do fígado de cadáveres.
Transgênico ou Organismo Geneticamente Modificado é o organismo cujo material genético tenha sido modificado por qualquer técnica de engenharia genética, recebendo genes exógenos.
Considerando que o gene é uma parte do DNA que possui um código genético para produzir certa proteína específica, e que este gene é composto por uma seqüência de bases nitrogenadas, pode-se fazer a seguinte analogia: as bases nitrogenadas são letras, os genes são palavras, o DNA que contém estes genes são frases e o organismo é um texto. As letras devem estar ordenadas para que a palavra tenha sentido; as palavras combinam-se de tal forma que a frase também tenha sentido e as frases devem compor o texto de modo lógico.
Qualquer letra, palavra ou frase com problema levará a um texto distorcido, o que resulta num organismo com problema. Observa-se, portanto, que transferir um gene de um organismo para outro não é tarefa fácil, pois este deverá funcionar em local e época adequados, de modo a não interferir erroneamente no funcionamento do ser vivo. Imagine o que ocorreria se um gene que deveria funcionar no fígado apenas estivesse ativo no ouvido. Seria uma confusão. Felizmente nosso organismo já está suficientemente evoluído e todos os genes sabem onde funcionar. Cabe aqui lembrar que todas as células do nosso corpo são totipotentes, ou seja, possuem a mesma constituição genética e pode-se regenerar um novo organismo a partir desta célula.
Mas fazer um determinado gene funcionar em hora e local apropriados não é o único problema. Imagine como seria difícil encontrar uma pessoa numa cidade de cerca de 40.000 habitantes. Pois bem, cada célula somática do corpo humano possui cerca de 40.000 genes, cada um com sua função específica. Procurar um gene não é tarefa nada fácil. Mas existem técnicas que nos ajudam nesta tarefa, como por exemplo determinar o cromossomo onde este gene se localiza e também sua função.
As principais etapas para a transformação de um organismo são: identificação do gene, isolamento, clonagem e introdução no organismo receptor. Depois basta verificar seu funcionamento. Pode parecer simples, mas não é, como já verificamos anteriormente.
Mas porque os transgênicos causam tanta discussão? Basicamente pelo fato de que os efeitos de se transferir genes exógenos não são conhecidos. No melhoramento clássico observamos que, ao buscarmos introduzir um gene desejado para melhorar certa cultivar de planta, outros genes são “arrastados” com o gene que se deseja introduzir, pois há ligação gênica entre os genes de um mesmo cromossomo.
Assim sendo, junto com o gene benéfico que desejamos introduzir, pode vir outro gene prejudicial ligado a ele. Some-se a isso que os cruzamentos só podem ser realizados entre indivíduos próximos, normalmente de uma mesma espécie ou entre espécies muito próximas. No caso dos transgênicos não há barreiras entre espécies, sendo o gene retirado de uma espécie e introduzido em outra, além de ser transferido sozinho, sem nenhum outro gene ligado a ele.
Um argumento a favor é o de que os transgênicos poderiam diminuir a fome no mundo, uma vez que possibilitariam uma maior produtividade, e assim uma maior oferta de alimentos. Cabe aqui lembrar que a principal causa de fome no mundo atual deve-se à péssima distribuição de renda e de alimentos, e não à falta de comida. Trabalhos sociais que objetivassem melhorar a qualidade de vida das populações mais pobres certamente teriam impactos muito maiores do que o aumento de oferta de alimentos.
Fica no ar, portanto, a resposta definitiva referente à segurança ou não de consumirmos alimentos geneticamente modificados. Sabe-se, com certeza, que qualquer alimento ingerido fora de recomendações causa problemas de saúde. Mas nem por isso os churrascos domingueiros deixam de ter a tradicional picanha com uma generosa camada de gordura, ou o comércio de bebidas alcoólicas foi proibido. Fica cada vez mais evidente que a disputa é apenas mercadológica, e, mais uma vez, somos reféns das circunstâncias. E tomara que, pelo menos desta vez, a batata quente caia em outras mãos.
Uma das principais contestações contra os transgênicos é o risco que está relacionado com a transferência do gene exógeno para espécies selvagens relacionadas. Isto é mais grave no caso de espécies de fecundação cruzada. Observe-se o caso do milho, onde 99% das fecundações são cruzadas. Considere um agricultor que cultive uma lavoura de não transgênicos ao lado de uma de transgênicos. Grande parte do pólen contendo o gene exógeno cairá na lavoura não transgênica, resultando em grãos geneticamente modificados, pois o pólen era oriundo de material modificado. Daí a importância de se delimitar áreas para cultivo de transgênicos isoladas das áreas de cultivo de não transgênicos, permitindo assim o controle do material colhido. Deve-se, a partir desta etapa, ter uma rede de comercialização distinta para os dois materiais, para que não haja mistura.

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